Peixe costumava me trazer aqui... Quando eu era pequeno nesse rio vinham mulheres pra lavar roupa, com umas bacias enormes de grandes cheias de sabão e trouxas carregadas pelo braço. De tardezinha quando a gente chegava, peixe enconstava o carro, a Parati depois o Escort e íamos andando uns três minutos pra ver o rio; a correntezazinha de nada que levantava uma espuma clara bem besta e as pedras lisas do rio logo ali na minha frente. Ele não deixava eu entrar no rio porque tinha doença (eu nem sabia dizer esquistossomose com cinco anos...) mas eu ficava todo bestão olhando a água passando. Vir aqui de novo contigo, meu amor, me fez voltar a algumas coisas que eu nem lembrava mais. Como quando a gente subia a ladeira do lado da gruta da santa pra ir tomar sorvete na casa de dois andares e eu voltava cansado, querendo ir pra casa de carro. O carro ficava lá embaixo e Peixe queria que a gente fosse a pé, porque a gente aproveitava mais o passeio. A ladeira que termina naquelas casas bonitas de tanto tempo, como se ainda estivessem lá os chefes da fábrica com os jardins grandes que passavam das casas e vinham bater na rua dando sombra; em poucos passos era uma vez a igreja, bem diferente dessas que a gente vê em Olinda, quase triangular, uma igreja pós-moderna, eu diria se não soubesse que ela é um pouquinho velha. Depos da igreja tem as casinhas da vila, onde devem ter morado os pobres que trabalhavam lá na fábrica; um dia também devem ter sidos todas iguais as casinhas que de tão mexidas eu nem reconheço mais... Andar por aqui foi realmente um achado. Cada coisinha dessas que eu vejo me deixa um pouco mais jovem meu amor. Bonito mesmo é o vento daqui de cima batendo devagar no teu cabelo.
Sabe, cada passo ali, no meinho da Vila da Fábrica da minha infância foi uma pontada forte na memória como se tudo que tinha ficado marcado, meio perdido estivesse pronto pra voltar. Tua mão junto com a minha ali me deu uma segurança que eu há bem muito não sabia como era; na prática eu senti uma alegria infantil de poder dizer o que foi cada lugarzinho daqueles, ao menos pra mim. E da mesma maneira como o rio que eu vi de pequeno e do qual hoje só sobrou uma tubulação de esgoto, eu sei que tanta coisa na minha vida ainda vai passar e vai esmaecer devagarinho... É muito bom saber que o quer que vá lembrar, o que quer que me seja um dia passado vai ser algo que eu vou contar pra ti, o que eu tenho na minha vida de eterno. Tudo que fica na minha cabeça fica porque eu sei que, no futuro, tu estará comigo pra nós relembrarmos nosso tempo de jovens.
dein Brunico...